segunda-feira, agosto 20, 2007

O Caos

Jocoso flutuei à beira do passado
Em momento negro e pertinaz, me vi parado
Admirando formas que nada revelarão
Desenhos retilíneos num atro padrão

Era um aquilo como nunca visto antes
Fogo sombrio que consumiu um garoto
E regurgitou após inebriantes instantes
Transitoriedades prazerosas antes do arroto

Detalhe inerte de concupiscência metafórica
Eu, um líquido amniótico fora da placenta
Alheio neste mundo de essência caótica
Cenários de privilégios que a mente sedimenta

Vago e atenuado em milésimo de segundo
O fulgor da lembrança do colorido periférico
Despertou neste eu infinitésimo meditabundo
Uma desagradável sensação de anestésico...

sábado, agosto 18, 2007

história teleológica completa da humanidade


houve primavera
houve luz
houve terra
houve ar
houve chuva
houveram plantas
houveram animais
houveram florestas
houve o homem

houve verão
houve amor
houve familia
houve fartura
houve ouro
houve cobiça
houveram impérios

houve outono
houve invasão
houve queda
houve deus
houveram homens
houveram reis

houve inverno
houve cobiça
houve guerra
houve fome
houveram idéias
houve guerra
houve preconceito
houveram homens
houve guerra
houve tempestade
houve medo
houve frio
e não ouve mais nada

(correção: depois de 22 dias eu notei q eu escrevi ouvido no ultimo verso(eu havia lido os comentários, mas achei q eram pura brincadeira literária, e não notei a digitação incorreta). na acepção original do poema era pra ter sido houve mesmo, mas não nego a utilidade do verbo ouvir sendo utilizado nesse verso, por isso deixo 3 opções de final, à escolha do leitor:
1. a acima
2.:"e não se ouve mais nada"(erro de concordância intencional)
3.:"e não houve mais nada")

Gelo na Córnea

Gelo na córnea
Não acorde - não vai doer
Pelo na cóclea
Não acorde - não vai doer

Cedo vi Eu cego pregando
Pregos em sua sepultura
Passou o dia inteiro
Numa noite em claro

Dissequem meus miolos
Não acorde - não vai doer
Percevejos na narina
Não acorde - não vai doer

Deposito transtornos neste agosto
Decepções etílicas mágoas esféricas
A meio que contragosto e muito desgosto
Coloco na sopa para combinar com a lagosta

Beba veneno
Não acorde - não vai doer
Uma pílula de naftalina
Não acorde - não vai doer

Um vândalo prostrado em mesa de acupuntura
Queria sobremaneira resguardar a cultura
Sonhar com um incessante pula-pula
E um palhaço vestido de demônio

Gargarejo de bílis
Não acorde - não vai doer
Extrato de acetona
Não acorde - não vai doer

Engravatados na lápide estão os pregos
Do meu epitáfio que previamente discutido
O arremesso, a martelada e o rombo
O sangue e o perfil atípico do ferido

sexta-feira, agosto 17, 2007


o vento levou a folha
carregou o pólen
apagou o fogo
destruiu a casa.

nunca deixou de ser vento.
nem por um momento.

(por rezende(se todos concordarem, eu o convidarei pra fzer parte do nosos blog))

Vento


o vento me trouxe poeira
chuva
insetos
pragas
o vento destelhou minha casa
derrubou minha floresta
queimou meu gado
derreteu meu ouro
matou minha familia
levou minha felicidade



...pra lugar nenhum

quarta-feira, agosto 15, 2007

Sagrado Manto

Sim senhores, doravante
Ainda que muito a contragosto
Não cutucarei mais Sagrado Traseiro
Tampouco profanarei blasfêmias

O nome D'Ele não macularei
Enquanto meus dias durarem
Espanto-me, no entanto
Se ao tomar Sagrado Manto
A minha memória atrofiar-se-á

E se não mais puder cantar
Como apaixonadamente cantei
E se porventura esquecer de usar
A consciência que Deus me deu
Livremente, por Ele?

Mas cadê o livre-arbítrio, meu Deus
Eu te rogo e imploro
Não deixes cair meu coração
Pois se tu livras-me do mal
Morrerei por ti, numa encenação.

homicídio


um coração
que pulsa
que crê
que já sofreu
que espera
que acredita
que teme
que suspira

que provavelmente já perdeu alguém que amava
eu atravessei um desses com meu primeiro tiro
e ele cessou de existir

e quem disse que não há poesia no assassínio ?

sulfite


contemplo aqui a vastidão alva
de uma floresta cruelmente estuprada e assassinada
poderia eu ouvir de suas fibras seus gritos horriveis de dor e desespero ?
poderia eu ouvir os animais morrendo de fome ?
poderia eu ouvir o grito angustiante do solo em sua hemorragia estéril ?
obviamente que não
por isso ainda assim escrevo
para preencher os espaços vazios
eu podeira dobrar o fruto deste brutal homicidio e fazer um belo pássaro
mas de que adiantaria ?
afinal seu coração nunca bateria
sua garganta não cantaria
suas asas não bateriam
e ele não voaria


(texto antigo, achei no fichário, escrevi indo para a cptm, inspirado em caieiro, ney matogrosso, e pink floyd)

domingo, agosto 12, 2007

newlogismvs

saudemvs os newlogismvs commo maniphestação origignal dê nossa cvltvra

sábado, agosto 04, 2007

A Dádiva da Prole

Uma peça poética sobre a relação de pais e filhos
Pedro Zambarda de Araújo

Dedicado ao meu pai, José Roberto de Araújo

I

Esta é uma lição sobre descendentes
De um pai que não foi austero, sequer severo,
Mas humano e líder, caro
E honrado em seus dizeres.

II

Baltazar repousava em seu trono,
Adormecido, sem nenhum adorno,
Somente a espada em guarda, a prata sagrada
Entre os ferros ensangüentados, mal-cheirosos.

Era um pai que sincero, com muito esmero,
Um caro rei, um imperador de tradicionais leis,
E preocupado com seu escudo, seu agudo senso.

III

O grande lorde tinha cinco filhos,
Todos meninos, todos grã-finos,
Sentados num banquete,
Armados com seus mosquetes,
Artefatos bélicos paternos.

O primeiro era chamado de Valentim,
Era um exímio espadachim, de olhos vorazes
E respiração curta, características audazes.

O primeiro, às vezes, ia ao ministério
Discutir política com os conselheiros do rei,
Tomando as honras do pai para exibir o mistério
De ser nobreza, expor muito mal sua autoridade,
Uma das várias fraquezas.

Discursava como um Pompeu no senado,
Falando dos amores e das glórias do parceiro,
Enquanto a faca ficava à espreita, na surdina,
Ouvindo atentamente a exaltação alheia.

A lâmina escondida clamou por aliados,
Que surgiram como diabos irados,
Sede de sangue, o inferno de Dante
Trouxe a covardia que estava latente
Em suas lâminas ardentes.

Valentim, nada valente,
Guiou o exército durante o sono
Moroso do pai, momento
Sereno, calmo, quieto.

Valentim, bem covarde,
Ergueu um atentado contra o monarca,
Sem qualquer ressalva, ou retaguarda,
E foi morto pelas costas, pela irmandade
Unida na espada do segundo filho,
Prodígio.

Era um tradicional filho, um irracional ninho
De maldições sem fundo, sem nenhum profundo sentimento
E preocupado com seu interesse, que falta de senso inteligente.

IV

Chamava-se Barbarossa a segunda prole,
Era de medíocre formação, inerente opinião,
Só ganhou importância aos olhos do pai pela morte
Do irmão, uma traição bem aceita, pura vingança.

Tal como algo inócuo e oco,
Barbarossa só se revestiu de admiradores,
Esquecera da própria gratidão paterna, horrores
Percorreram o saguão do palácio,
Eliminaram seu corpo, restou o mistério.

Era um filho perdido,
Um machucado sem sentido
E inserido numa felicidade escassa.

V

Lázaro era o quarto herdeiro,
Tal como o nome, era moribundo eleito,
Sofreu cento e oito mortes, e passou por tudo
Para continuar respirando.

VI

Lázaro se isolou numa ilha,
Mal sabia que caíra na armadilha
De seu gênero de indivíduo.

Estava morto por cansaço,
O trabalho árduo de sobrevida
Virou ferida, sem cicatrizar.

Era um masoquista vivo,
Um machucado sem sentido,
Era um imerso numa tragédia total.


VII

Amadeu era o terceiro irmão,
Sofredor das dores de Lázaro,
Era um emotivo muito avaro.

Sua avareza constituiu uma rotina de repetições
Entre as repartições monárquicas,
Foi preso por inúmeras corrupções
Entre os serviçais.

Os soluços e choros escondiam outro Valentim,
Mas meio retraído, meio serafim.

Era um resto de refeição andante,
Um indivíduo pedante,
Um filho que sempre se esconde.

VIII

O pai Baltazar então, depois de tantas decepções,
Foi dar cabo do último filho, o humilde Luís,
Estava feliz brincando com suas imaginações,
Um sublime inventor.

IX

A espada foi apontada ao pequeno Lu
E ele reagiu atônito, quando um trovão caiu,
Eram as lágrimas vertentes do velho desconsolado,
De um sentimento atordoado.

O rei desatou de vergonha,
Por que ferir o último herdeiro, o último cavaleiro?
Por que se martirizar por não terem eles o seu destino?
O rei cedeu à sua própria água
Que desfilava em sua valentia,
Em sua face brava.

X

Grande, Luís tornou-se
E jamais se esqueceu das dores do pai,
Mas foi revoltoso como os irmãos, cansou-se
De criar novas leis, integrar-se com outros reis, ser seu
Próprio mestre e aprendiz, superou-se.

O grande Luís, hoje, observa
As rosas depositadas no jazigo do velho Baltazar
E lembra, sem pestanejar, dos irmãos odiados, o rejeitar
Do respeito paternal, do sentimento que realmente ama.