quinta-feira, dezembro 31, 2009

Universo de Tolkien

Dos senhores negros, dos elfos em desespero,
Dos pequeninos e dos anéis, dos poderes dos reis,
Das colinas, dos vales, das magias em cálices
Adormecidos na mente acadêmica
Fantasiosa de um velho e seu cachimbo.

Guerras, amores, deuses, conceitos,
Cultura envolta nos preceitos
Do universo de Arda, munido
De fuga da realidade, misantropo
E reconhecível a todos.

Radiofonia

Vozes frias, ou seriam quentes?
Pulsos elétricos que tocam meus ouvidos,
São guiados pelos neuróticos neurônios,
Será que o locutor mente?

Forma rápida de jornalismo,
Compacto de fofoca,
Seria o resumo do cinismo?

domingo, dezembro 27, 2009

Cruzar São Paulo

Marginais entupidas, quebras embutidas
Nas avenidas e periferias preferidas
Da feira de cidadãos, da ceia dos ladrões,
Cerceando e ceifando a liberdade.

domingo, dezembro 20, 2009

Marginais de São Paulo

Presas pelo corredor de carros,
Pelo fluídos combustíveis,
Pelas carcaças substituíveis
Dos carros.

Irrigadas pelas águas lodosas,
Irritadas por temperamentos implosivos,
Agitadas por gritos inexpressivos.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Depois do trabalho

Eu chego em casa, sou grosso de graça,
Bato porta, piso firme, faço caras e mexo a boca,
Desenboco desaforos aéreos, falo em som estéreo,
Sussurro em mono, resmungo.

Rastejar

O arrastar do tempo me desgasta,
Peço ajuda ao leito que me arrasa,
Encontro-me derrubado pelos feitos,
Procuro pistas nos fatos.

Estupefato de tanto ler,
Envesgo-me sem foco,
Tenho estrábicos sentimentos
Sobre como me manter
Em solo frio.

Bola da Foca

Elaborei como uma rima gozada
Encostado com a cabeça no vidro do ônibus,
Não imaginei que sua notoriedade se traduz
Por umas idéias simples postas em prática.

Trata-se de um blogue de pseudo-jornalistas
Para um proto-público, nu diante das falhas
Diárias e retardatárias de um coletivo
Esperto.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Bang-bang italiano

Mestiço do mediterrâneo,
Mulato do Brasil,
Que maltrata os conterrâneos,
Os escravos sem vil comportamento,
Nem hostil envolvimento.

Mistureba de tiros,
Juba escalpelada na caça, no rio,
Pizzaiolos malucos munidos de facas,
Adaga no peito da pureza, duelo babaca.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Título Atrativo

(Insira um título atrativo)

Exponha toda sua angústia
É tudo o que pede o poema
O que seus pulsos abertos lhe falam

Insira aqui
Uma estrofe para acompanhar
Os sentimentos a rimar

E aparecem tilintantes
Os desejos que antes
Te faziam despótico

Mais que um dilema
Este morfema
É ilusão de ótica

Pouca prática

Com a mais perfeita possível
Notável prolixidão utópica
Deixa a marca de ouro
O final filosófico.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Bem...

Muitos vão estranhar o fato de eu postar no blog....o fato é que eu não esqueci dele...só não andava escrevendo...
Outros vão estranhar o texto....e este é mesmo de se estranhar....
Mas depois agente conversa melhor sobre ele, só uma coisa a dizer....personagem nova na área.
Beijos
É bom revê-los...

Perfeita Imperfeição

Hoje tenho trinta anos e sou absolutamente satisfeita e feliz.
Aliás, como todo mundo a minha volta.
Tenho um marido maravilhoso que me ama muito. Nunca tive um coração partido, nenhuma desilusão, nunca me senti só.
Meu trabalho é exatamente o que desejei, só faço aquilo que sempre quis, ganho mais que o suficiente para me sentir bem. Nunca levei uma bronca do meu chefe, nem me sinto pressionada com prazos e metas.
Esse é o único mundo que conheço.
Não tenho filhos, pois ainda não os quis, mas se quisesse poderia tê-los, quantos fossem, e seria capaz de criá-los e educá-los como qualquer outra.
Nunca tive uma tranza ruim. Nunca lamentei a ausência de um orgasmo.
Até porque, satisfação sexual própria e do parceiro por aqui é assunto de escola, matéria regular e obrigatória.
Falando em escola, isso me lembra que ela era maravilhosa, interessante em todos os aspectos. Os professores não podem dar aulas entediantes, nem chatear seus alunos, pois todos têm de estar felizes.
Meus pais foram os mais amorosos e presentes o possível, pais bem treinados para fazerem seus filhos felizes. Eles são da última geração a conviver com a transição.
A sociedade mais feliz do mundo! Esta em todos os muros da cidade, limpa e cheia de cidadãos gentis.
Pois a mim a palavra felicidade não diz nada, somente é a única realidade que conheço.
Não sei o que é ser triste, só, sentir dor, angústia, ou qualquer um desses sentimentos que nos tornem pessoas melancólicas, nem ao menos sei o que essas palavras significam.
Tragédias não nos dizem respeito, portanto não são veiculadas, não por serem proibidas, não seria preciso, ninguém as compra. Quem gostaria de ser visto sorvendo algo tão mórbido?
Não sei se felicidade é bom.
Sei que é comum, banal, cotidiano, é tudo que me rodeia.
Por aqui estar alegre, ser feliz é lei.
Todos te fazem feliz, queira você ou não.
Meu avô é anterior a lei da felicidade, me disse que quando era criança as pessoas choravam.
Choravam de tristeza!
E que um sorriso sincero era tão raro, que era considerado uma das coisas mais preciosas que poderiam existir. Devia ser lindo.
Pra mim o sorriso é uma coisa tão corriqueira, que não tem o menor valor.
Gostaria que as pessoas entendessem o que essa ausência de tristeza me causa, essa inexpressividade, esse tédio.
Ser alegre é neutro.
Não me entenda mal!
Não quero o retorno das guerras, da fome, da desigualdade, ou de nenhum desse males que segundo os livros de história, maltratavam as pessoas do passado.
Gostaria apenas de ter emoções. Saber o que significa ser feliz! Comparar a felicidade e o sofrimento, saber que rir é o contrário de chorar, não por ter lido em livros velhos, mas por ter vivido.
Quero me sentir real. Preciso saber se Sou de verdade.
Sei que algumas pessoas são capazes de se sentirem tristes com tudo que nos rodeia, mas nunca conheci alguém assim. São excluídos, tratados como doentes, nocivos a sociedade.
Eu não vejo dessa forma. Para mim eles são preciosidades. Sadios entre todos nós, loucos e obcecados com os nossos sorrisos. Eles são capazes de ver e sentir algo além da perfeição que me cerca, eles são verdadeiros, reais.
Enquanto eu nem consigo me considerar humana.

Margarethe.

sábado, novembro 07, 2009

Micro escrita social

É uma fatia do literal
Grito da multidão, diversão
Digital é a fama desse twitter,
Reter informação em pílula,
Ou ter acesso para a porta, pulula
Dados na tela.

sexta-feira, novembro 06, 2009

Superação. Supera ação.

Super reação, inversão
De papéis na cama, na lama,
Super retração, retardação,
Inflação do momento,
Larga a mão, minto e não
Desminto o mito.

Esforço contra o peso,
Encaixo seu desejo,
Vou além do ato,
Deixo vir o todo.

Era um dia super,
Num contexo líder
De fracasso, é mister
Ir além do fato, do próprio
Faro.

Inspirado na música Muros e Grades, Engenheiros do Hawaii.

Um dia super, uma noite super, uma vida superficial
Entre as sombras, entre as sobras da nossa escassez
Um dia super, uma noite super, uma vida superficial
Entre cobras, entre escombros da nossa solidez

quinta-feira, novembro 05, 2009

Lenda

O que faz uma lenda viva
Se o solitário
Morreu na véspera
Da sua composição

Não partilho
dessa lucidez
A força é tanta
Que até me espanta
Ao girar o guarda-sol
Fractal de raios

Pretendo
manter a lenda
e canto
farei do espelho
metade

Juntar os cacos
da única obra
mais sozinha

O velho homem sabe
Que lenda vive agora

A moça que corta os pulsos
Infiel seguiu até a morte
Bebeu taças de compunção

Nada adiantou

quarta-feira, outubro 14, 2009

a vida é costura

Uma palavra é um entrelaçamento de letras. Uma história é um entrelaçamento de palavras. E sentires.

A vida é por um fio. Sempre.

Às vezes, um entrelaçamento de fios. Mais das vezes, embaralhados.

Viver é desfiar palavras.

João sabe disso.

Que João?

O “João por um fio”, criado pelo Roger Mello.

João tem uma história própria. Esse João. Uma história dele. Sobre ele. Uma história que ele deixou compartilhar conosco, seus leitores.

Conhecer histórias é viver também. Um cruzamento de histórias. Costuras de vida.

A história deste João começa assim:

João se pergunta, ao dormir: “Agora sou só eu comigo?”.

Pode ser, respondemos. Como pode não ser.

João sonha quando dorme. O que significa que nem sempre seja ele com ele somente. E há os leitores, claro, que o acompanham enquanto ele dorme.

Os leitores a quem cabem algumas perguntas de respostas-não-prontas:

“Onde é que se esconde a noite que beija João?”
“Quem tem medo de um gigante chamado João? Ou quando é que o gigante dorme?”
“Se João cai no sono, com que paisagens ele sonha?”
“E se o medo derrama, João é que abre a torneira?”
“Que rede segura um peixe maior que a gente?”
“De que tamanho é o furo na colcha que cobre João?”
“Como se para um furo que não para?”

De repente, eis que, num susto, João acorda, e se preocupa: “Quem desfiou minha colcha?”.

Nós, leitores, sabemos quem foi. Ou como foi que a colcha se desfiou. Mas não podemos falar a João. Não podemos porque ele precisa descobrir o desenrolar da sua colcha. Ele precisa sentir como isso aconteceu. Ele precisa aprender a costurá-la novamente.

E João mostra saber disso: “No meio do vazio viu palavras espalhadas no chão”.

Então, ele resolve costurar palavras “como retalhos numa colcha”. E, ainda mais. “Enquanto costura, João inventa uma cantiga de ninar”.

Faz mais do que imaginávamos. Surpreende-nos.

E a nós, que acompanhamos João assim de perto, fica a pergunta: “De que tamanho é a colcha de palavras que cobre João?”.

Mas não fica-nos somente esta pergunta. Por trás dela há outra, que João espertamente nos deixa:

De que tamanho é a colcha de palavras que nos cobre?

E, para respondê-la, cabe-nos fazer como João: ao sonhar, desfiar a colcha que nos cobre, abri-la, explorá-la. Expormo-nos. E, depois, costurarmos palavras que nos cobrirão novamente.

A vida são ciclos, mostra-nos João.

A vida é um se despir para se conhecer.
_ _ _
í.ta**

sexta-feira, outubro 02, 2009

Formalizar o Deformado

É escrever um poema, um resto de teorema,
Ao som e ao áudio do vídeo de Ferreira, o Gullar,
Falando do "antiformalista por excelência" para os ouvidos
Aguçados de Ivan Juqueira, beirando palavras
Das incertezas.

Faz parte da poesia brasileira, que nada tem de portuguesa,
E é verso freguês de bar barato, ato sem muito tato.

Sua destruição é a lei,
É a vez do que se desfez.

escrever é dar a cara a tapa

publiquei artigo, na quarta-feira, no jornal "hoje", que circula por jaraguá e região.
o título do artigo é o título do post.
é sobre o escrever.
_ _ _ _ _
Escrever deveria ser sempre um incômodo.
Incomodar, segundo o Novo Dicionário Aurélio, significa, entre outras coisas, causar incômodo a, importunar, desgostar, irritar.Escrever deveria ser tudo isso, pois.
Estar incomodado é estar “levemente indisposto, constrangido”, ainda segundo o dicionário. E todo texto deveria incomodar. Incomodar o escritor e o leitor. Deixá-los indispostos, constrangidos diante do que se escreve e do que se lê.
Uma das finalidades de todo e qualquer texto, literário ou não, deveria ser esta. Já afirmara o crítico Umberto Eco, em seus “Seis passeios pelo bosque da ficção”, que “o texto é uma máquina preguiçosa que espera muita colaboração da parte do leitor”.
E essa colaboração nem sempre deve significar um ato de concordância. Contudo, não significa que deva se tornar rígida e excessivamente discordante.
Um texto cumpre com sua finalidade quando propõe um algo a mais para quem o lê. E para quem o escreve também.
Um algo a mais que reflita num pensar mais elaborado, que signifique um repensar determinado ponto de vista, ou que jogue luz sobre alguns caminhos de compreensão ainda não alcançados.
Se hoje escrevo, é por ler tantas e tantas coisas maravilhosas (e quantas ainda por ler!).
Se hoje escrevo, é porque desenvolvi em mim a pretensão de achar que através de minhas palavras as pessoas também poderiam se sentir tocadas, seja se encontrando em meus rabiscos, seja desenvolvendo uma antipatia pelos mesmos (e consequentemente por mim).
Se hoje escrevo, isso se deve ao trabalho de penso inserido nessa prática. Algo que me alimenta como sujeito. Algo em que acredito que possa alimentar a outros da mesma forma.
Se hoje escrevo é também por acreditar que esse ato possa ser contagioso.
Escrevo porque dói, e porque essa dor é minha fuga. Escrevo para me contradizer e porque ainda não encontrei melhor forma de solidão.
_ _ _
í.ta**

quinta-feira, outubro 01, 2009

O estranho dos estranhos

Vi escapar tão de repente
o trejeito no seu sim
Vi também o ai de mim
que vazou sem se tocar

Vê também que te vêem assim
por causa do teu som
Saiba que não foges aqui
14 mil a te olhar

O estranho dentro do ninho
O mais doido varrido
Um príncipe desvairado
E a moça delatada
A cobra peçonhenta
Na teia encantada
A merda que foi feita
Não serve mais de nada

Vê também quem ri de mim
Tão principe que eu sou
Saiba que aqui estou
Mais vão do que
Tu

O cálice entornado
A rosa desfolhada
A linda namorada
De lábios marejada
Desfilo na parada
Com seios de vinil
E mostro a minha cara
Pra todo o Brasil

Quero tê-lo, mas não tenho como.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Rock Brasileiro

É mutante, é o instável
Contratante, o faminto
Imigrante, rumo ao
Desconhecido reino do
Barão vermelho.

Engenharia havaiana
De quintal, muquirana
Forma de manifestar
Opinião, palavra perdida.

É a coca-cola de uma legião de urbanos,
É o ópio da consciência aberta ao estranho
Jeito de viver neste globo, neste ovo.

quinta-feira, setembro 17, 2009

As chaves da prisão

Um pouco do teu caráter é
mau; fecha os olhos vaidoso;
puxa a venda;
decide não pertencer
a conhecer o mais negro porvir
É covarde e vai embora
sem se despedir.

A juventude que te é roubada
por quem havia de proteger
É vã, foi há tempos promessa.

Esta chaga que te adoece
cava um poço e atola na lama
faz-te penar à guisa de carma
inveja a luz que já foi tua arma!

Busca refúgio, como se fosse culpado
de um crime imaginário

Te mandam recados escandalizados
Te chamam de otário
Tudo em nome do amor
Foge de casa e esquece
a panela vazia
e a mulher que termina o seu dia
com ar de concubina

Faz tempo que se foi
Meu belo beija-flor
Não voltou mais
Preciso do teu mel
pras amarguras da vida, sim senhor

Faze loucuras tardias
Devaneio, ilusão
Atitude de perdedor
Te perguntei quais são
os sonhos que te fizeram assim...
Sem as chaves da prisão
o mundo se fez em mim

domingo, agosto 23, 2009

Biblioteca

Marco o texto, decoro a página, cerro os olhos
Ao imaginar a desventura, a ternura
Protagonizada, a cena transporta
Minha mente com meus anseios,
Transborda sentimento.

Percorro as estantes de mofo,
As salas esterilizadas e modernas,
Descanso no registro abandonado,
Anestesio minha sede de invadir
Seu cérebro e colidir suas memórias.

Dedicado ao Ítalo Puccini, que tanto fala sobre leituras.

segunda-feira, agosto 10, 2009

o medo que um livro ainda provoca

artigo publicado por mim no jornal "hoje", que circula em jaraguá e região, há três semanas. o título do artigo é o título do post.
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Causou muita estranheza e revolta nos meios literários e educacionais, no mês passado, a retirada de mais de centenas de milhares de exemplares do livro “Aventuras Provisórias”, do escritor catarinense, radicado em Curitiba, Cristovão Tezza, o atual ganhador do maior prêmio de literatura do país, o Jabuti, com o romance “O filho eterno”. Mais estranheza e revolta ainda se deveu ao fato de que o Governo do Estado de Santa Catarina comprou mais de cem mil exemplares do livro citado e, depois de ter gasto um montante para este fim, retirou-os de circulação das escolas catarinenses. Tudo isto devido ao chilique de alguns pais e professores alienados, que argumentaram que o livro continha elementos “perigosos” para os adolescentes: alguns palavrões e referência a uma relação sexual. Como se na vida para além dos livros os adolescentes não estivessem em contato com esses “perigos”. Imagino que estes mesmos pais e professores tenham cortado as novelas televisivas de seus filhos e alunos também. Seria o mais coerente.
A literatura, assim como as outras formas de arte, nada mais é do que a representação da vida, de fatos vividos por todos nós, independentemente de sexo, raça ou credo. Não levar isso em conta é dar topada nos livros, é desaprender com eles ao abri-los. Assim como não existem escritas inocentes, da mesma forma não existem leituras inocentes. “Toda história é uma interpretação de histórias: nenhuma leitura é inocente”, já afirmara o crítico literário Alberto Manguel. Não há como se ler algo sem relacionar a outro algo, ou já lido, ou já ouvido, ou já presenciado. É dessa forma que a leitura, seja ela literária, seja de jornais, revistas, de imagens, ou de qualquer outro meio, enriquece aquele que dela faz uso.
O ato de ler pressupõe uma leitura não somente de textos, de palavras escritas. Não somente de imagens ou de sons. Mas sim uma leitura de nós mesmos e daqueles com quem convivemos. Ler é, também e principalmente, saber ler a si mesmo e ao outro com o qual se estabelece uma relação de viver. E cada leitor constrói uma história própria de suas leituras, assim como cada texto apresenta também sua história própria. É preciso levar isso em conta ao se escolher, por exemplo, um livro para se trabalhar em sala de aula. É preciso saber que a vida não pulsa somente na televisão ou no cinema hollywodiano. Ela está, também, nos livros, e não somente nos de contos de fadas infantis ou nos best-sellers de fórmulas prontas. Ela pulsa da mesma forma nos livros de um Cristovão Tezza, de um Rubem Fonseca, de um Marçal Aquino, de um Dalton Trevisan. Privar alguém de conhecer a vida por este meio é lhe cercear a liberdade de aprender com o livro, este elemento de subversão que ainda provoca medo naqueles que querem ter o mundo para si e aos seus olhos como se fosse uma bola de futebol.
í.ta**

segunda-feira, agosto 03, 2009

0 1

direita ou esquerda
pra cima ou pra baixo
certo ou errado
vai ou vem
ser ou não ser
vivo ou morto
positivo ou negativo
aceso ou apagado
verdade ou mentira
amigo ou inimigo
amor ou ódio
coragem ou medo

a vida é booleana

Festa cheia

Uma coisa leva à outra, e essa a mais uma.
Uma festa, longe de casa, longe de regras.
O limite nem mais é a consciência, a moral.
O raciocínio esvai-se, apenas se mexe.

-Anda, mexa-se!, diz a situação,
Alguém que não se mexe, não existe em tal lugar.
Está tão frio, por que não bebe algo para esquentar?

Taças, e copos, e taças, música, copo, música.
A música gira o mundo, o pensamento, o chão.
Música, copo, música, copo, copo, corpo...

Tudo balança e mexe como uma harmonia.
O álcool no sangue, parece combustível.
A música o motor, o chão a estrada,
estrada que vai levando, levando...

Apenas curte esse momento, curte,
pois não se sabe se é permitida
uma lembrança do que ocorrer.

O corpo se mexe por impulso.
Tudo vai ficando mais extenso, intenso.
Tudo vai...girando...andando...mexendo...

O corpo que não é meu,
também se mexe, se mexe como eu,
Mas tal como o meu, não tem rosto.
Só tem corpo, copo, corpo, copo...

A festa estende-se pela noite sombria.
A memória esvai-se pela festa cheia.
Cheia, cheia, cheia de corpos sem rosto.

domingo, agosto 02, 2009

Encontro dos rostos

Encosto meu desejo
Nos poros presentes,
Recordo do gosto
No momento do beijo.

Afasto e abro
As pupilas e os lábios,
Vejo meu rosto
No sorriso dos teus olhos.

Um texto definitivo para alguém...

Seria uma carta, um e-mail inesperado, uma comunicação diversa, um ato que é reflexo do tempo com telefonema que não incomoda, são as palavras que saltam da boca.

Seriam todas as citações que eu li sobre nós, teria toda a palavra que diz algo sobre você, seria um intertexto entre mídias e seria meu contexto na sua vida, em rimas podres, pobres, mas conscientes.

Seriam todos os meus textos. Os textos de todo mundo. Seria a falta de foco e todo o foco do mundo no que você é. Seriam meus dedos e os dedos que me reforçam apontados para o que eu sinto, para a conexão do recinto.

Não seria conclusivo e nem inclusivo. Seria subjetivo. Será que é mesmo definitivo?

Progressão

Jazz em improvisação, desce os instrumentos em sincronia,
Pensa a harmonia que os unia, sobe a nota com precisão,
Experimenta efeitos, seleciona notas
E toca a alma, desarma.

Augusto Sentimento

É reduto do contentamento
Sereno da minha mente,
É o templo da semente da flor,
É tempo da maturação da cor.

domingo, julho 26, 2009

Sobre o silêncio (e outros)

Dedicado a Priscila de Mello Jordão

Falam que o contato é o mais sublime dos sentimentos. Mais importante do que expressar, é a informação trocada, os sentimentos e as compreensões geradas em conjunto. Coletivos inteligentes. Anizades. Grupos. Interação. Casais. Pais e filhos.

Manifestar alguma coisa não é apenas botar em palavras, nem em gestos. Tudo significa alguma coisa, seja por intenção ou apenas pela inércia de qualquer atitude. Pode não ter o sentido que você compreendeu, mas tem uma associação simples. Ou mais complexa.

O silêncio é outra atitude que comunica. Não são poucas pessoas que dizem que ele resolve situações. Menos ainda aquelas que dizem que o distanciamento é a resolução de muitos embates que não podem ser resolvidos no momento. Silêncio e tempo são abusados de seus significados.

Em música, em teoria musical, silêncio é um intervalo de notas que, agregadas em conjunto, gera o sentido da música. Pode ser entendido por outra palavra: pausa. No entanto, só faz sentido dar uma interrupção brusca se existem palavras entre cada silêncio.

Tudo comunica. Então, valorizar demais as palavras seria subestimar o valor delas. Seria achar que berros valem a pena, quando são tribais. Por outro lado, valorizar o silêncio é morrer corroído pelos seus próprios pensamentos. Morrer de ego. Não existem tempos que resolvem o problema de uma vida, e muito menos pausas que solucionam problemas de melodias. A música se resolve. O processo é o todo de uma obra, não o final. A comunicação deve rolar como ela quer: pela vontade das pessoas envolvidas.

Se você espera um silêncio que acabe com todos os males ou uma palavra que dê a salvação para toda a disarmonia, é melhor morrer tragado pela impiedade do tempo. É melhor morrer de esperança. Eu sinceramente não me categorizo nesse quesito. Quem domina seu tempo, normalmente decide suas atitudes. Eu não tenho esperanças.

Acho que só tenho duas mãos, dois olhos,
Um silêncio perpétuo de muitos, o ruído cativante de outros.

sábado, julho 25, 2009

A transada perfeita

Não foi traçada na história dos homens,
É a fornicação que foge da visão comum,
São corpos sobrepostos, sorrisos dispostos,
E nenhuma lembrança além dos gemidos.

É um filme pornô sem história,
Sem televisão, sem memória.

Fala interminável

Só ocorre no seu lamentável estado
De não querer ouvir, no devir
Da comunicação, espaço
Fechado, cada um
No seu quadrado.

Não ter o que dizer

John Milton Cage transforma em obra de erudita arte,
Meninas tímidas transformam em charme,
Escritores prolixos trasnformam em numerosas páginas de destaque,
Oradores pensam que é um excelente intervalo no palanque.

Eu fico na gagueira, no medo,
E é justo o momento que quero dizer
Tudo.

Cruzada Libertadora

Busca pelo conhecimento,
Arrependimento de informação errada,
Contentamento na carteira, na anotação amassada,
Carteira vazia no emprego, desespero da falta de mesada.

Abandono das faculdades,
Dos mestres e das felicidades
Fantasiadas, vestidos
E disfarces.

Quero cortar a barba do professor,
Raspar sua autoridade, seu caráter opressor,
Esmagar seu livro, seu nariz franzino,
Sumir com sua lousa, com o quadro
Que será quebrado
Em meu punho.

Quero acabar com a escola,
Depois cuspir no emprego,
Quero acabar com a escolha
E punir a frustração, evitar
Que ela me encolha.

E sou como uma bomba sem direção,
Uma rolha de uma garrafa, acertada
Por suas bolhas internas, ração
Da minha revolta, reação.

quarta-feira, julho 22, 2009

Pequenez

Pequena
Que me sustenta,
Remenda
Os meus olhares de ausência,
Aumenta
Meu tato em teu corpo,
Nos teus passos.

Não é miúda, não é migalha,
É apenas pequena, uma concentração
Imensa em um ponto, suspensa.

Pequena
Que me alimenta
E cativa,
Pequeno
E grande sentimento.

segunda-feira, julho 20, 2009

Poema Torto

As pessoas aprendem tudo errado
preferem fazer que é torto
fora do quadrado

Não foi isto que lhe pedi
Não coloque isso ali
este não é o seu lugar

Não faz isso assim
Não me olhe assim!

Nascer torto das idéias
Para ensinar o que é reto
Aos frágeis de esquadro

segunda-feira, julho 06, 2009

o leitor


À parte as muitas e importante razões estéticas, acho que lemos romances porque nos dão a confortável sensação de viver em mundos nos quais a noção de verdade é indiscutível, enquanto o mundo real parece um lugar mais traiçoeiro (Umberto Eco, 1994, p. 97).
Assisti, nesse domingo, ao filme O leitor, que rendeu o Oscar 2009 de melhor atriz à Kate Winslet, pela marcante atuação. Já havia lido o livro, há três meses, mais ou menos, e acabei não indo atrás do filme (muito pela minha preguiça em me colocar à frente de uma televisão). E eis que nesse final de semana ele “apareceu” lá em casa, fruto de um empréstimo feito por minha namorada Nice junto a uma amiga sua.
Tomei coragem, então, após muito me enrolar para isso, e me deitei no sofá para assisti-lo. Tive que fazer isso de modo “quebrado”, é verdade, pois aguentar duas horas de filme é exigir muito de um ser sonolento como eu. Assisti a pouco mais de meia hora num dia, e ao restante no dia seguinte. E consegui chegar ao final!
Achei-o brilhantemente lindo. Mesmo já conhecendo a história, sempre há aquela interrogação: será que haverá muito de diferente para o livro? E isto é bom, pois mantém a pessoa atenta ao filme. Não tenho bagagem cinéfila para fazer aqui colocações mais aprofundadas sobre o filme e todos os aspectos de produção que o cercam. Estas linhas são dizeres simplórios sobre uma obra que suscita algumas reflexões no mínimo interessantes. E não faço referência somente ao caso de amor entre um adolescente e uma mulher mais velha, nem à 2ª Guerra Mundial e ao Holocausto, a este assunto que é tema recorrente de recentes produções literárias e de cinema.
O que mais me encanta na história de O leitor, tanto a descrita no livro por Bernhard Schlink, quanto a forma como foi filmada, é a força com que a literatura dá novo significado à vida da personagem Hanna, interpretada por Kate Winslet. Uma analfabeta que a todo custo, por vergonha, escondeu que não sabia ler nem escrever, chegando ao ponto de se prejudicar ainda mais no julgamento em que era acusada de deixar morrer trezentos judeus, e de abrir mão da aventura amorosa vivida com o ainda garoto Michael Berg. Garoto este que não entende o sumiço de Hanna, e que, mais para frente, já cursando a faculdade de Direito, depara-se com um julgamento em que uma das acusadas é Hanna. E é nesse momento que ele entende porque Hanna tanto lhe pedia para ler para ela. A rotina amorosa dos dois seguia este ritual: fazer amor, banhar-se juntos, e ele ler para ela. Até o momento em que Hanna some sem deixar vestígios nem explicações, o que só será compreendido mais à frente na história.
E é na parte final desta história que Hanna aprende a ler e a escrever. Na prisão, a partir das fitas que o menino-já-homem-feito Michael Berg mandava a ela, com as histórias de alguns livros que lera para ela quando no romance de verão que eles tiveram. Histórias como “A Odisséia” e “A dama do cachorrinho”. Hanna vai à biblioteca da prisão e pega um dos livros gravados por Michael, e ali, ouvindo e acompanhando no livro, ela descobre as letras, as palavras, as frases, e os sentidos que pode construir junto a elas.
O leitor é não só uma história de amor, ou mais um ponto de vista sobre o extermínio de judeus. É, também, mais uma possibilidade de sentir os alcances da literatura: o quanto ela pode ressignificar vidas e estabelecer elos duradores. É como afirmou Pennac: a virtude paradoxal da leitura é a de nos abstrair do mundo para nele encontrarmos algum sentido.
Í.ta**

Sinuca de bico

Se eu não acreditar em Odin,
Não irei para Valhalla,
Se eu não acreditar em Zeus,
Irei da mesma forma para o mundo subterrâneo,
Se eu não acreditar em Júpiter,
Terei o mesmo destino de cima,
Se eu não acreditar em Alah,
Não terei minhas 50 concubinas virgens,
Se eu não acreditar em Krishna,
Não atingirei o Nirvana,
Se eu não acreditar em Buddha,
Não alcançarei a iluminação,
Se eu não acreditar em Mitra,
Talvez aconteça algo ruim,
Se eu não acreditar em Baal,
Vou mal nas guerras,
Se eu não acreditar em Jeová,
Vou arder no inferno,
Se eu não acreditar em Deus,
Não vou para o Paraíso...
São justos esses deuses medíocres?

domingo, julho 05, 2009

O despertar do poder supremo

como despertar o poder
engastado nas entranhas
mais viscerais do senhor doutor
martela-se o pé, quebram os estribos;
arremessa-se a bigorna contra os detritos

livra-me disso por escrito
dê-me a única razão que não se abala
circunscreva todas as circunstâncias não circunscritas
e sobreviva à relação mais duradoura com seu empecilho favorito
é um mero atrito, mas que por desserviço achou melhor não se fazer de mito

um atrevimento só poderia ter lhe custado mais que a cabeça;
donde há de vir rolar mais do que idéias soltas
mais do que o sangue carmesim que flui
um deus de nanquim, plúmbeo
registrado, para sempre
neste blogado

terça-feira, junho 30, 2009

Fera-Eu

Uma vez o espelho rosnou
Desejou a liberdade
Estraçalhou a realidade

Uma fera quer ser liberta
E os ouvidos afiam suas garras

O espelho cresce conforme o admiramos
A realidade mostra-se hostil diante do desejo

Estraçalha o espelho, e tudo vem à tona
O desejo é podado, as mãos se cortam

Estanca-se o ferimento
Lava-se as mãos
Procura-se outro espelho

segunda-feira, junho 29, 2009

narcirexia 2

"Olhe para si mesmo

não enxerga além? Mais do que seus vibrantes olhos

inescrutáveis

mas ousam sonhar, perscrutadores..."


Quem é
O garboso jovem do sorriso doce
aparência tenra, beleza ímpar
um dia, beirando um lago
viu-se refletido
no espelho de águas

e curioso, procurava o irreconhecível

provando do seu mais malvado, irônico
destrutivo e corrompido

contempla o rosto, descontente
buscando o ser mais desumano

impassível, cruel-homem

o inimigo e irmão discreto

esquecido, passou tempos espreitando
uma fraqueza, criança tola

detém a força, recaída

e porventura mostra-se dócil e insolente

recalcado - gêmeo por natureza e separados por narciso

ao se atirar nos braços de eco


bem vindos à percepção irreal da persistencia
de uma subjetividade perversa
maligna até o osso
inconseqüente de raiz

Os dois jovens encaravam-se

mediam forças
tête-a-tete, de olhos injetados
disparando falácias que incidiam em ângulos incongruentes
centralizando mil sotaques de idiomas diferentes
sem conseguir pôr de lado um abraço
o bendit frut de vos ventre, do mágico
e da branca de neve.

quarta-feira, junho 24, 2009

Narcirexia

mira em cima
mira de lado
qual será o certo
e qual é o errado

a vida pelo retrato

dizer quem é
sem ao menos saber
se espelhar na dor

vira de lado
vira em cima
diga quem ser
sem demora

porque vaidade
não tem hora

sexta-feira, junho 19, 2009

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres


Voltei à Clarice semana passada. Para lê-la faço assim. Leio um aqui outro acolá. Desestrutura-me a escrita de Clarice. Encarei, então, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, um livro que começa com uma vírgula (o significado de que há algo antes disso, antes da história, antes do livro, antes da personagens, antes de tudo) e termina com um dois pontos (há algo a ser completado, pelo livro, pelos personagens, pelo leitor, por tudo).
Há uma frase de Clarice antes do começo da história: “Este livro se pediu uma liberdade maior que tive medo de dar. Ele está muito acima de mim. Humildemente tentei escrevê-lo. Eu sou mais forte do que eu”. Uma frase que muito representa Clarice e sua escrita. Uma frase que já prepara o leitor para o que virá adiante. Uma aprendizagem. Com dor, com angústia, com prazer.
Conheci, então, a história entre Loreley (Lóri) e Ulisses. Narrado em terceira pessoa, o livro apresenta como vivenciar uma forma de amor. Lóri é de família de posses, de origem agrária. Vive no Rio de Janeiro, separada da família, sozinha, trabalhando como professora primária. Para manter um padrão de vida acima das possibilidades de uma professora, Lóri recebe mesada do pai. Ulisses é professor universitário de filosofia. Aos poucos se percebe que Lóri está "aprendendo a amar", ou a "ter prazer", com Ulisses. São vários os momentos narrativos em que isto fica explícito: ela está sendo "preparada para a liberdade por Ulisses", "Ulisses determinará quando ela estará pronta para dormir com ele".
A aprendizagem do título é o caminho que percorre Lóri enquanto dura a narrativa. Caminho este que será finalizado quando Lóri estiver "pronta" para dormir com Ulisses. Significa, com Ulisses, aprender ou descobrir o prazer para além do meramente sexual: algo como um amor total, pleno. A busca de Lóri era também por um aprendizado de se tornar um ser humano. Uma aprendizagem para além dos limites do compreensível: “A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano”. “(...) queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia”.
“Mas sua busca não era fácil. Sua dificuldade era ser o que ela era, o que de repente se transformava numa dificuldade intransponível”. E, para ajudá-la nessa busca, ali estava Ulisses, com seus dizeres: “Aprende-se quando já não se tem como guia forte a natureza de si próprio. Lóri, Lóri, ouça: pode-se aprender tudo, inclusive a amar! E o mais estranho, Lóri, pode-se aprender a ter alegria!”; “(...), viver é tão fora do comum que eu só vivo porque nasci. (...) O óbvio, Lóri, é a verdade mais difícil de se enxergar”.
Esta é a travessia do livro, a trajetória a ser percorrida pela personagem. Uma trajetória densa, na qual o leitor entra sem saber para aonde irá. Uma trajetória que se torna uma aprendizagem, um conhecer-se mais a si mesmo. Acompanhar Lóri, ouvir as frases filosóficas de Ulisses, exige uma entrega, pois “(...) não é mesmo com bons sentimentos que se faz literatura: a vida também não. Mas há algo que não é bom sentimento. É uma delicadeza de vida que inclusive exige a maior coragem para aceitá-la”.
í.ta**

sábado, junho 06, 2009

mulher [- reloaded]


vontade, muita vontade
desejos incontroláveis que não são entendidos
um sexto sentido que não se pode ignorar, mas que às vezes falha
um temor incontrolável pelo bem estar de aluguém que está muito longe
[e que talvez outros o teriam esquecido]
eterna sensação de que há algo de errado
eventual sensação de quem mais te ama, não te ama
costumeira sensação de que ninguém te ama
sensação de que o chocolate te ama
impressão de que há algo sobrando, e não é um filho
rara sensação de que há algo à mais, e é um filho
impressão de que não se sabe onde está, quando se sabe

domingo, maio 31, 2009

Mulher

Dois seios formosos, duas nádegas arrebitadas,
Um corpo em curvas, feições, tato e luvas.

Dois olhos focados, uma boca delimitada,
Sensivel ao toque, desenhada,
Mas não é boneca de diversão,
É ação, é reflexão.

Mulher, mulher que é distinta
Talvez pela história terrível, a sina machista,
Mulher que, com corpo estético,
Não se difere do macho herético.

Mulher é igual ao homem,
Mulher é como o homem,
Mulher come o homem,
O homem não come a mulher,
Porque só quer as coisas
De colher.

quinta-feira, maio 28, 2009

memórias de leitura


Acabei de fazer a leitura deste livro, "Herdando uma biblioteca", de Miguel Sanches Neto. Uma série de textos de cunho muito pessoal. Há, no livro, o retrato escancarado de um leitor. Um leitor sempre em formação. Há o início deste leitor, o como os livros se colocaram na vida dele. Há, também, o que e quem é este leitor nos dias de hoje, escritor renomado, crítico, e outras atribuições que a vida em volta dos livros lhe impõe.
São relatos, impressões, e opiniões que, para um leitor-em-formação-amante-de-livros, meu caso, fazem crescer ainda mais a vontade de estar rodeado por livros e por objetos de leitura. São relatos que inspiram a novos escritos, a descrições de momentos de leitura, como este. Cada livro merece um dizer, falando bem ou não. Cada livro merece o seu silêncio pós-leitura, um tempo para digerir o que acabou de se mastigar, e um registro, por menor que seja, incorporando-o, de fato, a si.
Não me vejo herdando alguma biblioteca, e sim construindo uma própria. Com livros bem selecionados, que me tocam de alguma forma, sem preocupações com classificações ou vendagens de revistas semanais ou semanários culturais. A construção de um leitor se dá pelo saber escolher o que ler. "Herdando uma biblioteca", para mim, foi uma boa escolha, sem dúvida.

Í.ta**

terça-feira, maio 19, 2009

Prolixo

Sou a favor do lixo
Das letras, do nicho
Das cabeças, da confusa
Maneira de compôr.

Uso meus dentritos
Em uma reciclagem, edição
Dos meus escritos.

terça-feira, maio 12, 2009

Anatomia

Dizem-se doutores da vida,
aqueles que aprendem morte.
Vista-se de conhecimento,
o corpo frio e vivo.

Quantas lágrimas correram
veias e artérias diversas!
Quantas emoções transcenderam
músculos e tendões endurecidos!

Olhos vidrados no infinito,
que haveria mais além:
morte viva, ou vida morta?

A Anatomia vive em
corações diversos...digo
doutores, doutores da morte.

segunda-feira, maio 11, 2009

Ofuscada

quando a avistei
virou o rosto
muito apressada
subiu à sala

esbocei um
"seja sensata"

som de poesia
mal sussurrada
uma vez excitada
cuspiu na cruz

pensa nas luzes
..esquece a ribalta

terça-feira, maio 05, 2009

Writers no TOP BLOGS

Saindo um pouco dos versos e das rimas...

Criado pela MIX Mídia Digital, o concurso TOP BLOGS vai eleger o melhor blog em várias categorias - Celebridades, Cultura, Comunicação, Esportes, Games, Humor, Música, Política, Saúde, Sustentabilidade, Tecnologia e Variedades.

Através de voto popular e júri acadêmico, as votações de blogs estão disponíveis na internet desde 4 de maio e só se encerrarão em 11 de agosto. O mais votado e eleito pelo júri, em cada categoria, receberá uma premiação especial do concurso.

O The Blue Writers está participando do concurso na categoria Cultura. Para votar, clique aqui ou no topo da coluna da direita. Coloque mamãe, papai, cachorrinho e todo o pessoal que você conhece na votação. Esse prêmio é muito importante para nós: focas, bolas e pretensos comunicadores.

Mais detalhes sobre o TOP BLOGS, aqui.

segunda-feira, abril 13, 2009

Meu canto

Não tenho grandes viagens para contar,
Não tenho grandes valores para exaltar,
Vivo numa época de desesperar,
Ensaio um desperar, invento um renovar.

Não tenho grandes viagens para contar,
Só tenho um punhado de livros, meus olhos
E minha terra, meus cantos,
Minha fala em prantos.

domingo, abril 12, 2009

Jazz #2

Poesia é qualquer coisa
Estruturada, qualquer estrutura
Sem coisa. Ela nos circunda.

Jazz

Minha poesia é improvisação pura,
Invento um verso, rimo com outro,
Teço grupos, estruturo os conjuntos,
Uso repertório, repito o repetido,
Uso obra de outro, destruo meu espírito.

Não espero nada das palavras,
Não espero nada das lavradas
Obras de meu destino,
Espero uma base, um tino
De fina arte, e crio
Idéias.

Poesias são idéias,
Não declarações de amor,
Nem fontes de odor,
São conceitos flutuantes,
Ululantes, pulsantes,
São momentos e intervalos,
Incessantes.

segunda-feira, abril 06, 2009

A solução para São Paulo

A menina feliz que fala com as pessoas no ônibus.
Mesmo sem verbalizar.


(Entenda ônibus como qualquer lugar.
Falar ao ônibus é como falar ao mundo,
exigindo coragem, ousadia e até uma
certa falta de noção, que é saudável)

quarta-feira, abril 01, 2009

P.A.Z

Personalidade Aritmeticamente Zelosa,
Parada Administrativa e Zunida
Pára o Auditivo Zelote.

Para Alguém Zelar
É Preciso Alertar o Zé.

Minhas iniciais brincam no fim e um pouco antes dele.
Não é? Pedro Zambarda de Araújo?

quinta-feira, março 26, 2009

Frenético

Intermitente, interferente
Amigo, patente do meu ascendente
Artístico, rente a irreverente
Loucura do místico, inteligente.

Dedicado a Guilherme Prestes Mendes, que completa 21 anos hoje.

sexta-feira, março 13, 2009

Eu,
Uma existência presa
no plano do absurdo
sedenta por mundos

sou algo que vaga
no campo do inimaginável
imaginar-me, moldar-me
despido de probidade
é digno de pena
desconfortável

quando escondi
a dor da alma gêmea
existe livre arbítrio
ou é conversa das estrelas

sou preso por estar ciente
por quanto tempo
não consente
esta lógica
incoerente
e mais,
esta coleira
é de puro couro
do mais fino curtume

entre os dejetos dos firmamentos
exibo as algemas
não machucam as mãos, mas
os vislumbres do inconsciente
prendem-me a este mundo leviano

sou uma alma
acorrentada e torturada
subjugada ao mais cruel verdugo
a cruel mortalha
que cobre a carne viva
é da mais fina seda
especialidade da nobre colheita do oriente

sem saída, aberração
sem salvação neste plano
de certeza crua
e implacável desdém
preso ao valor
e à matéria prima
de alta qualidade
padrão de mercadoria

eu,
acho que penso

Revolução da Vida e da Morte

Um comentário íntimo
sobre a vida pública
é perfeita a hora
para semear dúvidas

no mais,
é viver e deixar morrer
e na prateleira guardar
o que não mais servir

pois,
de que adiantaram
todas as paronomásias
se os parnasianos invadiram França
dos bons costumes

ficaste a ver
os vagalumes
já ébrio, distante
de boemia
e decorado com uma cereja

é ordinária
a dulce fava
que serviu exércitos
e honras compradas

é triste igual
todo esse medo
sinal de destruição

é igualmente mordaz
a inteligência
que deixa sequelas
que prometeu o sangue

houve tempo
para imaturidade

domingo, fevereiro 22, 2009

Po.e.si.a

Engenharia dos sentidos, das letras e dos conjuntos, palavras
Da expressão sublime e primordial da lingaguem,
Dos adjuntos humanos, da comunicação e linhagem
De relações, o engenho dos corações
E dos célebres cérebros.

Uma construção como qualquer outra, rota de
Um emburrecimento inteligente, o inteligente emburrecido,
Sentido, bruto, refinado. É um tijolo da casa,
A palha da morada, o cimento da idéia.

Poeta entristecido

É diferente de poeta triste,
Poeta triste espalha angústia,
Enquanto poeta entristecido empalha sofrimento,
Pausa no momento exato de seu clímax, seu máximo.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

(Des)Humano

Divide o mundo com um muro,
Divide o pensamento com um murro,
Há o Ocidente de direita
E o Oriente de esquerda.

Tudo trocado,
Troca tudo!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

lembrança pós-morte

Foste em vida
O que meu subjugador foi na morte

Toma umas rédeas, contrito
e apregoa a boa oração

a mágica
a mágica reflete a beleza do olhar
a pureza do ser humano
que carga humanitária desdobra
perante a nobreza de sua verdade

o que mentiu é o que se foi
mais afastado de todos
porque misturas com o divino
coisas não compreendidas

e mistificadas foram tuas palavras
ambiente oráculo de sua mente
aperto de lembranças agastadas
multidão deveras crente...

sábado, fevereiro 07, 2009

A minha identidade

É meu rosto, meu presente entorno,
É meu ato e seu retorno, é meu rosto.

No entanto, ele não precisa ter face,
Porque não há personalidade
Sem fase.

- mais - mais -

Espelho com rosto,
Rosto ao contrário,
Espelho com rosto e com mais espelho,
Pentelho ao contrário, duas vezes.

Cabelo jogado para lá, cabelo caído pra cá,
Enquanto a superfície primeiramente mente,
Segundamente, desmente.

Quando és careca, as arestas são as mesmas.

Raspo, alongo, faço plástica, disfarço

Cubro com máscara,
Escancaro minha diáspora.

Você nunca vai saber quem sou,
Se ajo como eu ou como outrem,
Quisera Deus que eu fosse só sémem,
No entanto, sou humano, homem.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Punk

Sou anarquista, sou vigarista,
Vou te foder, seu filha puta,
Te contorcer, capar tua culpa,
Comer tua bunda.

O negócio é explodir amplificadores,
Peidar, comer hambúrgueres e experimentar
Motocicletas envenenadas, armar
O barraco, o arroto.

Meu moicano, meu cabelo repicado,
Minha jaqueta de couro, meu molho espalhado
No teu lanche vomitado.

O negócio é a bagunça,
A falta de rumo que me excita,
A orgia e a aversão, música.

domingo, janeiro 11, 2009

Glam

Meu batom, minha peruca,
Minha boca pendura
O cigarro e a gula,
Pareço maluca.

Sou apenas,
Perua.



Ou peru,
Puro glamour.

Blues

Meio tom acima, meio tom abaixo,
Baixo pra cima, guitarra pra baixo,
Meu negro som em notas, em poucos tons,
Simula coloração, escala cromática
E pura prática.

Ácido

Trágico hospedeiro, conquista meu asco,
Devora meu saco, revira meu suco gástrico.

Não é droga, não é alucinógeno,
Talvez seja a dor dos estóicos.

Líquido puro e corrosivo,
Estomacal, anormal.

Dor abnominal, bestial
Sensação, compressão labial,
Reclamação matinal.