sexta-feira, dezembro 31, 2010

Rabisco

Arte
É desastre
Entre meus garranchos menos inspirados,
Entre meus rascunhos largados,
Simples rabisco.

Sociedade de poetas da Avenida Paulista

Se reúnem na Livraria Cultura, perto do metrô Consolação,
Entre obras novíssimas e algumas importadas,
Ou realizam encontros na Livraria Martins Fontes, na Brigadeiro,
Entre botecos de esquina e padarias,
Ou se encontram embaixo do MASP,
Dividindo espaço com mendigos e espetáculos públicos.

Poetas da atual modernidade

Escrevem versos em monitores de cristal líquido,
Colecionam alguns poucos manuscritos de papel,
Manuseiam vários livros em tablets e leitores digitais,
Convivem com o fluxo de dados, conservam ideais abstratos.

Para 2011

Que seja um começo de década, logo após 2010,
Que encerrou o período de Bin Ladens,
Obamas, Brasil potência, Partidos dos Trabalhadores,
E todas as tendências da primeira década do
Século XXI, época do futurismo realista,
Do iPhone na ponta dos dedos, da informação
Flutuante e em nuvem (de tags e links).

Trabalho na véspera de Natal

Todos querem sair,
Todos querem dormir,
Todos querem partir e não parir mais ofício
No pré-santa-claus, pré-fim-de-ciclo.

Mas sempre há um operário de vigília
Na fábrica, sempre há um naco de trabalho
No período de descanso.

Dedos doloridos

Das cordas de nylon, das de metal,
Do corpo sinuoso, do braço estreito,
Dos sons difusos, dos acordos confusos,
Do violão que não toco, mas que me toca,
Me preenche de leves hematomas.

Faculdade Cásper Líbero

Número Novecentos
Da Avenida Paulista
Serpenteado por barulho,
Pessoas e ideais urbanos.

Número Novecentos
Que é o prédio da Gazeta,
Da pequena Faculdade Cásper
Que trouxe a formação de jornalismo ao Brasil.

Em um "prédio-labirinto",
Com sinal barulhento para os alunos entrarem
Nas aulas, com corredores estreitos,
Parecendo uma Hogwarts paulistana.

Universidade de São Paulo

Ando de carro, ando a 50 km/h
Na Cidade Universitária, em São Paulo,
Ao som de Ripples da banda Genesis
Às cinco horas da manhã, pouco antes do trabalho,
E observo as folhas e as folhas caídas
Diante de uma aurora rejuvenescedora.

As faculdades separadas por prédios
E unidas pela universidade de estudantes,
A diversidade de cores e histórias.

O nascer do sol que enaltece a beleza natural de uma USP
Lado a lado de uma Marginal Pinheiros poluída,
Pureza e urbanização juntas, incoerentes.

Bolo de rum

Vou escrever um poema
Sobre um bolo de rum
E doce de leite
E panetone
Que eu comi nas festas de final de ano,
Que era meio alcoólico, meio doce,
Uma mistura de sensações agradáveis.

Frutas secas com pão, recheio de sorvete de abacaxi,
Doce de leite lambuzado, bebida e o gosto impregnante
Na boca.

Teste do tempo

Um livro infantil desperta memórias
No vulto repleto de rugas, já o livro amarelado
Aguça o olfato da garotinha rata de biblioteca,
Diferentes memórias e o mesmo impulso,
O mesmo fluxo por conhecimento.

Materiais velhos, materiais novos
Que, poupados pelo teste do tempo,
Ou vencedores dessa disputa,
Caem no colo de diversos leitores
Unidos por uma mensagem.

sábado, dezembro 25, 2010

Festa de Natal

Festividade religiosa
Que ganha contornos universais e ateus
Com a paz universal, o significado sobrenatural
Das mensagens essenciais ao homem.

Se resume ao velho barbudo,
Aos gordos engodos repartidos
E ao peru no forno.

Tolkien escreveu poesia

Versos incompletos de uma geografia de um mundo imaginativo,
Prosas que se desenvolvem das rimas e do inglês primitivo,
Histórias do mundo antigo de Balrogs e do senhor escuro,
Dos escudos rachados dos humanos mortos e dos elfos
Mofandos nos ermos, obra de Tolkien
Reescrita pro Christopher T.

Inspirado no livro Os Filhos de Húrin.

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Rouca

Pelo barulho dos veículos,
Pelas conversas rotineiras,
Pelos locais-comuns, pela comunidade opressora
De costumes orinários conjunturais,
Opaca pelo bombardeio de dados e os ratos
Que parasitam seu conteúdo.

Por todos esses motivos
Morre a fala,
Force a barra,
Falo falece, morre a fala.

Roça

Mais longe do computador,
Mais perto das moscas, enrosco
Nos galhos jogados no matão, me enrolo
Nas folhas dos carvalhos e embaralho
Minha vida pessoal nos raios do sol.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Jornalismo é uma escola de texto

Você coloca a mão na massa sob pressão,
O prazo suprime a sua criatividade,
O texto legítimo é fatiado por outros,
Você cria seu frankenstein pessoal nas prosas.

Escrever para bons editores
Em dias ruins,
Escrever para maus editores
Em bons dias,
Escrever para todos
Correndo o risco de ser o único leitor.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Chuva repentina

Devasta o dia,
Escurece o céu,
Mistura tempos,
Reúne corpos,
Purifica o lodo e é o último banho
Dos urbanos asquerosos.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Peça de teatro amadora

É feita por atores perto da realidade,
Ainda distantes da genuína ficção,
Do mais alto calibre de falsidade e criatividade,
É o enxerto que imita a vida
E é a solidão com público amoroso,
Composto por pai, mãe a amiguinhos.

Mas é um espetáculo glorioso
Em um recinto simples, num palco sem muita sofisticação,
Próximo da verdade das coisas.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

WikiLeaks

Wiki - Leaks
Coletivo - Vazamento
Coletivo dos vazamentos,
Das fofocas, da comunicação
Mais básica e fundamental,
O boato e os fatos.

Julian Assange

Cabelos brancos, um site de fundo branco,
Informações confidenciais de interesse coletivo,
Global, internacional, com informações literalmente
Desconhecidas do conhecimento geral.

É um homem contra um governo,
Pequeneza contra o complexo,
Mas é também um site contra uma instituição,
Um corpo sem barreiras contra um órgão limitado.

É um terrorista, um jornalista,
Que na verdade é apenas um espião
Levando dados ocultos aos ignorantes
Da nação, de todas as nações.

terça-feira, dezembro 14, 2010

A incomparabilidade da modéstia

(Cuidado! Pode haver clichês, de acordo com os entendidos)

Posso ser chamado de louco
Mas de louco todo mundo tem um pouco
Quem se acomoda é dito fraco
E cai no buraco
Quem corre atrás prevalece
E adoece.

Quem vive de espera cedo se enterra
Ao passo que quem tudo alcança logo se cansa.

O evidente é ser modesto
a força da temperança

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Insucesso

É um sucesso interrompido,
Um excesso suprimido,
É a realidade do aleatório
Imperceptível, parece
Rotina, não é
Puro fracasso.

sábado, dezembro 11, 2010

Dirigível de chumbo

À prova de balas,
É guiado sobre a cidade,
A metrópole das formigas,
É acertado por canhões
Nos olhares humanos,
Sobrevoa as esperanças
Com peso de toneladas,
E o andar de pluma.

Eu

eu
perdido e revolto
nessa imensidão de embaraços
abrindo as janelas de alegrias
..
não tenho tempo pra abraços
refugio-me nos caprichos
obedecendo a contratempos
os meus temperamentos
..
como posso ser grande
se por dentro sou pequeno
quão grande é a lucidez
por lembrar-se da pequenez
...
como posso mandar em multidões
se quem manda são os medos
a curto prazo o passo é falso
a frase é linda e o poço é fundo
...
eu, dono de mim
rei do meu ser
impávido, gentil
um ser homem de verdade.

Você

Sim, você
Você humano, que me lê
Sinto sua falta
Mas não sinto seu amor

Você, o humano que lê
Cadê tu?

Escondido sob camadas de retalhos
Temendo ser o próximo que cai?

A gente diz que se envergonha
- não se exponha -
A gente diz que cai uma lágrima
Mas não molha uma página.

Você, ser humano
Eu quero seu amor

terça-feira, dezembro 07, 2010

Replicante

Inspirado em Blade Runner

Sou chamado de artifício,
Arte ofício da mão-de-obra escrava,
Uma máquina que não se diferencia de nada,
Um desejo de ser humano,
Enquanto inteligência.

Replico o gênero civilizado,
Mas não sou mais do que fria peça
Do quebra-cabeças das invenções
Mirabolantes dessa terra negra,
Dos céus obscuros e da chuva
Abundante.

Volúvel

O texto e a poesia para qualquer tempo.

Eu vivo para dizer coisas que sei, que são aquelas que eu preciso dizer. E, para dizer sobre o que conheço, comento do que desconheço. Muitas vezes mergulho no total estranho, retirando elementos cognoscíveis. Minha realidade está no ato e nos nexos entre o que me é familiar e o que me é estranho. Eu sou uma unidade moldável, sondável. Minha essência não tem forma fixa, parecendo clara de ovo, plasma do sangue, ar da voz perdida em espaço aberto, gota de chuva e todas as partes de um todo inexato. Eu sou uma vontade de falar, um desejo íntimo, ínfimo e ilimitado de conhecer, uma substância que unifica e umidifica. Não há pedaços secos de meu ser. Estou misturado.

Sou como os nexos de uma razão cartesiana, que se explica em meditações além da física, enquanto tenho ímpetos edgarmorinianos de aliar partes totalmente desconexas de meu corpo disforme. Entendo bem e mal, justo e injusto, ético e antiético, mas brinco de misturá-los no caldo de minha própria pele. Identifico-me com atrocidades na mesma proporção que os amores mais piegas e as indiferenças mais atrozes. Não concebo nada estático, exceto elementos que me ajudem a mover mais e mais a minha sopa compartilhada com todos.

Estou molhado. Sou molhado, enrugado, úmido e não vejo separação dos outros. Os plugues eletromagnéticos preenchem minha nuca com pulsos energéticos que alimentam meus circuitos. Eu me informatizo. A minha saliva é a via mais honrosa da vida. Os meus dedos são instrumentos do ofício do registro. Eu sou máquina e animal, o todo parcial. O absurdo mágico me preenche de graça e me impulsiona a interpretar do meu jeito, sempre de olhos abertos às demais formas. Tudo a mim existe, mesmo quando a verdade é mentira.

Eu não acredito em bloqueios e os dilemas me parecem anseios. Eu durmo apalpando os seios do fluxo, abraçado na teia dos contatos. Minha substância é viscosa, mas tem cheiro e aroma aprazíveis. Meu líquido é preenchimento. O vazio me parecia algum aspecto de contentamento.

Sei que não existem paisagens simples, por mais que existam padrões humanos de representação. Por isso, sempre me enxergo como o caos das informações em caixas elétricas de comunicação, assim como me vejo nos livros velhos e filosoficamente empoeirados. Das correntes elétricas ao papiro deteriorado, eu sou o conhecimento da pele e do osso, da superfície e da ontologia. Eu sou sujeito interpretante e coisa. Eu sou a coisificação que representa, continuamente.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

O livro que se lê no metrô

É o mesmo folhetim de rápido consumo,
Ou é uma obra de imersão, uma alienação da realidade
Dentro de uma liberdade poética,
A obra literária de metrô é aquela que não se abala
Com o ritmo das pessoas e que não sofre
Do balanço dos ônibus de São Paulo.

Uma obra de metrô é uma obra de trem,
Uma obra de viagem passiva e de paisagens
Sem nenhum detalhamento, do isolamento
Em uma caixa de ferros e rodas, prisão
Flutuante.

domingo, dezembro 05, 2010

Transcrever

... é transpor o que deve ser escrito e
Extirpar o que resta do meu ente,
Dando vida ao que não respira,
A única mágica possível.

Mas escrever, transcrever, transpirar é correr o risco de cair nos deslizes pessoais e alheios,
É perder-se em todo e qualquer referencial,
É cair num código alfabético, tentando traduzir o que não se explica pelos códigos da matemática.

Busca da aritmética do espírito,
Da geometria dos desejos,
Extrapola os limites do meu corpo,
Gera feridas na minha mentalidade
E metamorfoseia minhas conclusões.

"escrever dói"
Segundo Fábio Fernandes

Força transpondo

Obscurece meu entorno, esgota minha energia,
Me faz machucar quem amo, exterminar quem sou,
Avacalhar minhas razões, não canalizar meus medos.

Direciono as forças, não deixo-as transpor,
Não ergo a mão para ferir quem me afaga,
Mas tiro a adaga que me corta, que me rasga.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Meta: duas linhas

Duas linhas, duas palavras,
Duas migalhas de pão aos pombos,
Dois textos na redação ao seu editor,
Dois beijos na testa da mãe,
Dois beijos na boca carnuda da namorada,
Dois terços de um quarto da minha essência
Que vive nessas linhas sem sentido,
Duas linhas, duas palavras, cotidiano.

A tal literatura

Diz-se significativa, diz-se essencial,
Diz-se estrutura fundamental,
Entrelaça nas relações humanas essenciais,
Vive naquela besteira chamada poesia,
Vive na boca dos tolos alegres.

Mas nasce na água corrente,
No lodo urbano,
Nos sentimentos insanos.

Chuva de verão

Alívio, refresco barato,
Água de metrópole chuva, água trovoada do campo,
Úmido, me aborreço.

Vem e vai. Suja e muda
As circunstância, deixa interminado
O acontecimento.

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Ontoverbologia

O ser precede o verbo,
O verbo anuncia o ser,
A ontologia se confunde com o ato,
A substância se confunde com o formato.

A tola filosofia forma os tempos verbais simétricos e
Os verbos dispensáveis criam o mais profundo pensamento.

Fim de década

Começou em 2001, acabou em 2010,
Começou binária + 2, terminou do mesmo jeito,
Teve bandas de rock insossas, teve blogs abundantes,
Teve muita rede, teve muita solidão,
Teve pouca política,
Teve muito alarde,
Teve planeta morrendo,
Teve palavras escorrendo,
Tempestade muda em dez anos, binária, ordinária.

Anarquia consentida

"Ninguém te representa" vi pichado na rua hoje, em São Paulo, representa um sistema
Falho, um presidente marionete, um deputado que rouba, um ceticismo que arromba,
Ninguém nos representa, ninguém me representa, ninguém representa ninguém,
Vi pixado nos muros paulistanos, vi estampado nos corações marginais,
Vi paralelo ao núcleo que nunca sabemos, acreditamos no capitalismo,
Sonhamos com o socialismo, vivemos na anarquia consentida.

Redação de jornalismo

Todos são céulas, em suas mesas, em suas divisões, em sua linha de produção,
Computadores abertos, mentes escancaradas na imaginação, ceifadas na edição,
Sistemas de pessoas, pessoas mecanizadas, textos terceirizados de agências de notícias,
Um pouco de criatividade, um balde de café, salas envidraçadas
Para revelar o calabouço do escritor.

A essência do futurismo e dos deslocamentos de tempo

É falar sobre o presente, em tom retrô, em tom posterior, em transição, sem ponto fixo,
Como desenho disforme, homens distorcem, enredos contorcem,
Robôs caminham, cavaleiros derrubam dragões,
E eu viajo em um punhado de papéis,
Dentro do metrô.

Rimas estúpidas

Quero expurgá-las, matar todo o lirismo, criar um cinismo quanto às formas, deturpar
Toda hora meu senso comum, estuprar meu estilo, devorar meu intento contente,
Criar formas assimétricas, métrica da dieta, suco de soja.

Poesia de todo dia

Começa com um verso, um pedaço de migalha, um nada do nada, que nada por oceanos cotidianos,
Que navega na minha cabeça em fragmentos, que começa com a tinta no papel, no barulho
Das teclas incessantes, da minha sóbra loucura intinerante,
Encosto a pena, o dedo, o pensamento, o verbo, o sujeito e o predicado,
E começo a escre...

Androginia de David Bowie

Não é apenas fantasia, purpurina, lantejoulas, visual, design, maquiagem, lápis de olho, futilidade,
Utilidade, masturbação, mas é uma dubilidade vocal, são palavras paradoxais, voz de veludo,
Texto peludo, cheio de roquenrou e complexidade.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

O labirinto de Cortázar

Me prendo nas paredes, nos contornos
De uma mulher nua, de uma palavra dura,
Encrostada numa realidade crua, de entornos
Com estorvos, livro dobrado, gasto, rasgado,
Personagens ralos, última palavra regada
Ao jazz do nonsense.

Escritor argentino descortês.