quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Um dia que só existe a cada quatro anos

Frustra quem faz aniversário, atrasa dia de pagamento,
Alonga um pouco mais a vida,
Irrita os deprimidos e ilude os animados.

sábado, fevereiro 25, 2012

Dia de 25 horas

Hoje, dia 25 de fevereiro, é um dia de 25 horas
E não das habituais 24, um dia extenso, de minutos densos,
Com vida alargada, mesmo que o cotidiano
Nos mate a todo momento.

Muitos queriam um dia com 72 horas, mas só conseguiram nos dar
Uma mísera hora a mais, uns minutos adicionais de tango,
Tempinho para beijos, para mais espera, para continuar
Desejando.

Neste dia de número 25, você percebe que o relógio é uma mentira,
Que o alongamento é inútil, que a inércia vai continuar e que o vácuo
Vai se prolongar.

Toque então mais uma balada, separe mais alguns acordes e
Me prepare um café para um dia com duas meia noites.

(Lembra deste aqui?)

Tempo

É o que tenho comigo mesmo, é a sensação
De estar com todos, de estar com alguns, de estar só
Com meus neurônios solitários e insólitos. Rebeldes.

Tempo é as trocentas poesias sobre o momento,
É uma batida de baqueta, um termo abstrato,
Uma respiração entre um palavreado,
Um vácuo entre conceitos.

Tempo depende de espaço. Espaço é tempo
Elástico, tempo é recorte de tesoura
Nos papéis revirados na bagunça.

É uma ordenação absurda do espaço,
Comprimido pelos contratempos.

Sou servo dos meus textos

E escrevo todos eles com erros, sangro na edição, efetuo cortes,
Faço sangria das palavras desnecessárias, apago, reescrevo, desisto,
Resisto, escravo das frases, da composição, do contexto.

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Poesia vazia

É poesia a ser escrita,
É poesia depois da borracha,
É palavra do dia a dia,
É ponta da caneta, papéis amassados
E cérebro inquieto.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Deus ex machina


É a torradeira, é o computador,
É a britadeira, é o robô
Do roubo do meu intelecto,
É a arte que espero,
Arte ofício,
Atifício
Que é artificial.

sábado, fevereiro 18, 2012

Observador

Voa com suas asas sobre os homens, se esconde no alto
Da arquitetura mais megalomaníaca, é um solitário completo,
Um sozinho diante do mundo.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Os melhores textos

Saíram desastrados na primeira publicação, foram riscados,
Retorcidos, trocados, retocados, remanejados, reescritos
E espantam até o dono.

Escreva uma linha por dia

Escreva uma palavra por dia.
Escreva uma sílaba por dia.
Escreva uma letra por dia.
Escreva.

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Músicas

Sou fã de músicas tristes,
Pra chorar, pra pensar, pra arrepiar,
Pra iludir, pra absorver, pra abduzir.

Sou fã de músicas felizes,
Pra descontrair, pra unir,
Pra confundir nossos corpos.

Sou fã de tragédias sonorizadas,
Pra não esquecer.

Sou fã de sussurros e de barulhos,
Pra sempre me incomodar.

O único que não entendo é meu próprio ruído,
Minha voz inibida, meu zunido,
E fico com palavras entaladas, sem som.

Na solidão, componho

Na solidão, escrevo,
Na solidão, converso com meu amigo imaginário,
Crio companhias, farsas materializadas na ponta do lápis.

Na solidão, posso usar borracha.

Na solidão, abro álbuns com fotografias amareladas
De quem não sou mais, de quem tenho saudade,
De quem não conheço, de quem não me esqueço.

Na solidão, escrevo notas,
Escrevo livros, escolho as cores
Para uma nova pintura, um novo quadro.

Na solidão, faço orações,
Atéias ou religosas.

Na solidão, conto pétalas,
Martelo tábuas,
Organizo os tijolos em casas.

Mas eu só trabalho sozinho porque já estive junto,
Porque tenho memória,
Porque tive contato. Intacto.

Embaixo da ponte, na Avenida Nove de Julho

Eu sinto sua presença trágica, mas sua memória afável.

Na Avenida Santo Amaro,
Eu sinto sua mão na minha coxa, no carro. E seu sorriso simples como acorde
Cheio.

Na Avenida Paulista, sinto os abraços,
As mãos dadas, as companhias fáceis, a garoa fina,
A mudança brusca de tempo e os prédios bonitos e feios.

Na Rua Augusta, aspiro cerveja,
Petiscos, cinema profundo e
Muita música.

Não sei de quem falo, muitos se encaixam,
Mas os locais são únicos.

Como um anjo, observo o mundo

Como humano, encosto no vidro do vigésimo andar de um prédio e vejo pequenos carros,
Pessoas mínimas,
E como um anjo do filme de Wim Wenders, acredito que sou invisível,
Um observador inconcebível,
E tento sentir as pessoas, sem entender.

Que bom que a vida é (um pouco) feliz

E só é feliz com o mínimo, que vira o muito,
Que desemboca no sorriso, que se trumbica na gargalhada,
Que é torcido na loucura e que é atropelado
Pela ternura, sedutora.

Piano silencioso

Toca notas dispersas, com dedos leves,
Numa noite coberta
De cacos de pessoa, de lapsos de ideia,
Reúne fagulhos
E forma pontos de um hino grandioso.

Quem bom que a vida é triste

Que bom que a vida é triste,
Porque assim ela muda,
Porque assim a muda brota,
A semente esgota, o caule se ergue,
O tempo prossegue, a folha desabrocha,
E as coisas ficam felizes,
Depois ficam tristes
E são, sempre,
Difíceis.

domingo, fevereiro 05, 2012

Dança

Vem à frente o condutor
peremptório
comanda os passos
necessários
para encantar o público.