segunda-feira, julho 23, 2012

Croesia II

É madrugada, é começo de dia,
É hora do almoço, do doce,
Com pessoas invisíveis,
Com as que nos enchem de algo,
E sob o Sol, morre o tempo,
Os indivíduos, os fatos.

E no jantar, tudo morre.

Triste

Triste é ser triste
E ter beleza ao redor, luz,
Sombra e água fresca.

Triste é o mundo profundo,
Denso, rico, contraditório
E cativante, sendo opaco por dentro.

Triste é ser inteligente, respeitado
E ciente.

Agindo feito demente.

Memória

Gotas da história 
Pingam nos seixos da memória
É rio caudaloso que entorta
E reconta contos tão longos
De um passado distante
Ora vívido, ora fosco
O quadro de vidro
Atrás da porta.


Os anos somem afora
Mas ainda se escuta à porta
A gota que pinga
No leito que seca
No quadro que mirra
No rio cinza, na foz morta.

  Memória
  À sua glória.
  

terça-feira, julho 17, 2012

Ai, Ana.

Ai, Ana.


Ana veio se queixar
Porque empresto minha voz ao poeta
A voz mágica, de ternura e tenores
Fala de algodão doce
E amores
O ressentimento de Ana
É porque empresto minha voz somente ao Poeta
E só ele me completa.

Construção


 Pedra sobre pedra.
Adobe argamassa e argila
 Taipa e fibras
 Excrementos e barro.

  De tudo que já fiz hoje
 Só me falta construir um carro.

sábado, julho 07, 2012

Grécia do berço até o calote

Era um bebê gorducho, disposto, abastado, deitado no conforto,
Repleto de referências, propagador de preferências, filósofo,
Virou uma criança mimada e um adolescente engajado.

Hoje é um velho senil, preocupado com a conta em banco,
Contando as parcelas do cheque especial, deprimido.

Sozinho feliz

É o que repara a beleza da luz do dia,
Do natural e do artificial que convivem,
E fica sem inventar nada,
Só a contemplar.

Antes que a inquietude o atinja.

Croesia

É uma história cotidiana
Insuficiente, uma narrativa verbal,
Sem sujeito e nem predicado,
É retrato da realidade
Sem detalhes, um encalhe.

É um lirismo do asfalto,
Um infinito de significados em uma garrafa de cerveja barata,
São versos alexandrinos escritos em um guardanapo,
Ou um soneto involuntário,
De rimas pobres.

Meu verbo podre,
Minha metáfora esnobe,
Faz essa croesia, poesia crônica, crônica poeta,
Um pedaço de texto do mundo real,
Do surreal da minha poética, da minha visão
Tentando extrapolar o mero relato,
Ficando no termo vago.